Padre,
Missionário ou Santo? Quando se trata de Arlindo Vieira, é comum que opiniões
se dividam, gerando cisões muitas vezes inconciliáveis. Em uma cidade marcada
pelo catolicismo, já era hora de escrevermos sobre o maior lidere religioso que
Capão Bonito já teve: Padre Arlindo Vieira, ou melhor, o Santo Capão-Bonitense.
Sua
trajetória exibe os traços de verdadeiros heróis. Situa-se entre os homens que
deixaram suas marcas neste mundo e não apenas passaram por ele. Quem passava
pela rua General Carneiro, já notava no pequeno Arlindo Vieira sua vocação
religiosa e sua preocupação com os mais humildes.
Numa
época dominada pelo poder econômico e a política dos grandes coronéis, Padre
Arlindo simbolizou a valorização dos mais pobres na Igreja Católica. Enfrentou
o sol ardente, chuvas e os campos íngrimes, para levar até os moradores da
roça, a palavra de Deus, para manter viva sua fé.
Jamais
se curvou aos poderosos, e aliou-se aos trabalhadores do campo, em defesa de
melhores condições, de melhores salários. Com habilidade e inteligência mostrou
a todos, ricos e pobres, que os ensinamentos católicos era uma forma de
ascensão social.
Seus
pais, Francisca e o Major Pedro Augusto Vieira, escolheram Capão Bonito para
viver e aqui ele nasceu, brincando pelos campos que circundavam a nossa
majestosa Matriz Nossa Senhora da Conceição.
A vocação
sacerdotal
Arlindo
Vieira nasceu no dia 19 de julho de 1897, e desde menino dava sinais de vocação
sacerdotal e comandava todas as orações familiares. Percebendo a forte vocação,
seus pais o matricularam no colégio São Luis de Itu, onde foi adquirindo para
seguir sua missão: multiplicar a palavra de Deus.
Sua
primeira atividade como padre foi na cidade de Avaré, onde atuou por um ano, e
logo seguiu para a Europa para realizar o grande sonho de estudar na
Universidade Gregoriana de Roma.
O Missionário do
povo
Depois
de sua atuação marcante na reforma de ensino em 1942, a convite do ex-ministro
da Educação, Gustavo Capanema, Padre Arlindo encontrou sua destinação
definitiva: pregar ao povo. De trem, ônibus, a cavalo, bicicleta e
principalmente a pé, percorreu os mais distantes rincões do interior
brasileiro, especialmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais. A princípio,
seu itinerário detinha-se também nas cidades medias e grandes, mas seu “Dom
Divino” fez com que se dedicasse aos lugares mais pobres, abandonados e
esquecidos até mesmo pela própria Igreja católica, que reinava absoluta na
época.
Foram
mais de 20 anos de pregações levando a palavra de Deus. E foi por essas
peregrinações que Padre Arlindo se encantou pelo povo da roça, encontrando um
ambiente de fé viva e esperança, apesar das dificuldades que ali imperava.
Mesmo sem a presença de padres e igrejas, aqueles homens, mulheres e crianças
da roça viviam diariamente o cristianismo, graça a vocação e a bondade do Santo
Capão-Bonitense. O povo do campo cultuava as procissões, os longos sermões, os
foguetórios em dias de Santo, a beleza das imagens e as cerimônias tocantes,
outra especialidade de Padre Arlindo.
Suas missões em
Capão Bonito
A
terra natal de Padre Arlindo não poderia ficar de fora de seu roteiro de
peregrinação. Por aqui ele fez várias visitas, dando preferência sempre às
pequenas capelas dos povoados rurais.
Sua primeira passagem missionária pela cidade foi em 1941, conforme
conta um de seus relatos: “Tinham-me dito iria encontrar séria resistência por
parte do povo da cidade, frio e indiferente”, disse.
Depois
de quase sete décadas, parece que o nosso povo ainda carrega tais adjetivos.
Apesar da falta de entusiasmo, Padre Arlindo começou sua missõa com uma
pregação calorosa na Igreja Matriz, com a presença de 400 fiéis.
Em
Capão Bonito, Padre Arlindo teve algumas desavenças com alguns espíritas,
principalmente com José Maria Aliaga, que escreveu um artigo publicado na imprensa
local, atacando o padre Missionário. Em
seu diário, Padre Arlindo falava de sua alegria de trabalhar na terra onde
nasceu. “Em Capão Bonito passei dias muito felizes em várias capelas. O povo da
roça conserva grande apego a religião católica”, falou.
A beatificação
Além
da vida dedicada às missões e ao ensino brasileiro, Padre Arlindo também tinha
dotes artísticos. Por muitos anos manteve um programa semanal e rádios
cariocas, e foi articulista de grandes jornais da época, como o Diário de
Notícias, onde se tornou amigo pessoal de Carlos Lacerda. Seu
poder de comunicação manifestou-se também como compositor de músicas sacras.
Até hoje, quem acompanha as missas da Matriz, aprecia suas composições, que já
foram interpretadas inclusive pelo grupo musical “Flor do Panema”.
Os
último dias de sua vida foram dedicados ao povo do interior de Minas Gerais,
principalmente na região de Mariana, hoje Diogo de Vasconcelos. Na igreja desta
cidade, reunia verdadeira multidão para ouvir suas palavras. O amor por aquele
povo era tão intenso, que sempre manifestava o seu grande desejo: o dia que
tivesse que partir, que fosse em meio aquele povo, e se Deus assim permitisse,
enquanto rezava com ele. E assim foi: em 04 de agosto de 1963, logo após
celebrar uma missa em homenagem ao santo padroeiro da cidade, caiu morto aos
pés do altar. Suas últimas palavras foram “quod ore sumpisimes”. A notícia
chegou a Capão Bonito, e a população chorou e lamentou a partida do santo
gameleiro.
Após
sua morte, vários milagres foram atribuídos a Padre Arlindo Vieira, os quais
foram relatados pelo arcebispo da cidade de Mariana (MG). Em 1985, o padre
jesuíta Murilo Moutinho iniciou a coleta de depoimentos, documentos e relatos
sobre a vida e os possíveis milagres interceptados por Padre Arlindo. Tudo isso
foi reunido em um livro, que será enviado ao Vaticano para o processo de sua
beatificação.
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