Símbolo da solidariedade, Padre Henrique Helsllot
revolucionou
o cuidado com as crianças em Capão Bonito
Padre
Henrique
é filho de holandeses. Descobriu sua vocação sacerdotal e social ainda na
adolescência. Nessa época, ia à missa aos domingos, rezava antes de dormir e
acreditava que a Igreja só existia para castigar os que errassem. Decidiu-se
libertar-se e foi conhecer a Igreja a fundo.
Tinha grande
desejo de saber de tudo: sobre as pessoas e a vida, e encontrou o que lhe
pareceu fundamental: Deus. Em longas noites de meditação, se perguntava se não
era mais importante deixar o que vinha fazendo para seguir o exemplo de alguns
raros homens e cuja missão era: ser religioso e ajudar as pessoas.
Cursou o
seminário que o transformou em padre no próprio país onde nasceu: Holanda.
Enquanto aprendia Filosofia e Teologia, os canhões da Segunda Guerra Mundial
derramavam sangue por toda Europa. Por lá, foram 13 anos de sacerdócio
comandando três paróquias, mas sentiu que não estava feliz. Falta-lhe algo mais
profundo, mas humano, mais solidário. Henrique Helsllot era fascinado pelos
projetos sociais, e queria tocar um com seu DNA.
Por diversas
vezes tentou sua transferência da Holanda para outro país, até que um dia, um de
seus tutores no seminário virou Bispo e abonou sua reivindicação. Padre Henrique desembarcou no Brasil em 1968,
em plena ditadura militar, e foi recebido pelo então arcebispo de São Paulo Dom
Paulo Evaristo Arns. Sua missão religiosa na capital paulista durou cinco anos,
e após o desmembramento das paróquias da região de Itapeva da Diocese de
Sorocaba, Padre Henrique foi convidado para comandar diversas comunidades
católicas no município de Capão Bonito.
Chegou à cidade
em 1973 com objetivo de melhorar e reorganizar as atividades católicas, que
foram meio deixadas de lado pelo padre da época, que se aventurou na política e
acumulou também o cargo de prefeito, o prefeito de batina. Botou os pés aqui e
foi logo discutindo e participando dos problemas da comunidade com a mesma
veemência dos veteranos da aldeia.
Quis ir além da
sacristia, e adquiriu uma área de 3,5 alqueires, equivalente a 77 mil metros
quadrados, para iniciar os primeiros passos de um projeto que transformaria o
conceito de assistência social no município. Numa de suas visitas às
comunidades mais carentes, ficou inconformado com as condições alimentares e de
saúde de muitas crianças. A imagem daqueles pequenos meninos e meninas
desnutridos lhe chamou a atenção e atingiu sua sensibilidade em cheio. Nasci
desse descaso infantil a ideia de construir o Centro de Assistência Social.
O começo, como
tudo na vida, foi difícil. A falta de estrutura e a escassez de profissionais
na área, foram às primeiras dificuldades encontradas. Mas a vontade de transformar
a vida daquelas crianças foi superior, e o padre, que trocou seu país de origem
por uma pequena cidade do interior paulista, venceu todos os obstáculos e
barreiras que encontrou pela frente, e hoje, graças a seu empenho, à sua
liderança e ao apoio de milhares de capão-bonitenses, o sonho está vivo e é
real.
Os homens comuns
não entendem esse estilo de vida. Abandonar o conforto de um país desenvolvido
para, muitas vezes, sofrer humilhações pelo simples objetivo de ajudar uma
criança, é uma opção que só vemos nos homens diferentes, nos líderes, que com
uma breve frase, arrastam multidões para o mesmo propósito.
Capão Bonito
comemora na próxima quarta-feira, dia 02 de abril 156 anos, e muito de seus
avanços e conquistas deve-se a este holandês gameleiro, que escolheu um estado
de vida aqui que só pode ser entendido em função da fé e da solidariedade.
Renunciou ao mundo da vaidade e da individualidade para se dedicar aos pobres,
aos humildes, ao seu rebanho.
Ele lutou para
que a Igreja e a sociedade não ficassem ao lado das estruturas que oprimem os
mais necessitados. Padre Henrique lutou por uma mudança, que permitiu uma justa
distribuição dos serviços sociais.
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