É
praticamente impossível separar a religião da política. Políticos precisam dos
votos dos fiéis e os líderes religiosos aproveitam a valorização do passe para
negociar algum benefício para a Igreja ou até mesmo para o próprio umbigo. A
prática virou rotina no processo eleitoral.
Numa
entrevista ao jornal O Estado de São Paulo nesta semana, o arcebispo de São
Paulo, d. Odilo Scherer, falou: “É difícil separar religião e política”, porém,
recomenda uma postura mais imparcial e consciente da Igreja. Para ele, os
condutores religiosos devem incentivar uma participação mais ativa dos fiéis na
política, e escolher candidatos que se sustentem em pilares como combate a
corrupção e ao abuso do poder econômico (compra de votos).
Scherer
adverte que a Igreja não deve indicar nomes, pois segundo ele é uma questão de
escolha livre e consciente de cada um. “Recomendamos, também, que o clero não
tome posição partidária. Não escolhemos partidos e nem candidatos, mas ajudamos
a comunidade a discernir sobre cada um”. Esperamos que os padres locais leiam
esse artigo.
O
depoimento do arcebispo de São Paulo foi esclarecedor, mas a realidade é outra.
Muitos líderes religiosos aproveitam a ingenuidade e a humildade de seu rebanho
para doutrinar e eleger um apadrinhado. Temos vários exemplos em Capão Bonito.
Nas eleições de 2008, a Igreja Católica se concentrou e levantou a bandeira de
dois nomes na eleição proporcional. Neste ano, outros nomes já se declaram como
candidatos do clero.
Pastores
evangélicos também transformaram os palcos destinados à oração e à reflexão
espiritual em verdadeiros palanques. Escancaram a Igreja para os políticos de
seu agrado. Na semana passada, noticiei no meu Blog (Chicotada), a postura
política da igreja evangélica “O Brasil para Cristo” – comandada pelo pastor
Eduardo Teixeira – que anunciou, sem nenhum tipo de constrangimento, que terá
candidato próprio a vereador. Agindo desta forma, a igreja desrespeita a
liberdade e influencia diretamente na escolha do candidato. É uma forma de
manipulação.
Os
segmentos religiosos deveriam adotar condutas voltadas à formação e
conscientização política. Padres e pastores têm boas formações intelectuais.
Estudam teologia e consequentemente ganham conhecimento em sociologia,
filosofia e história. Algumas neopentecostais vão mais longe e oferecem aos
futuros comandantes cursos de oratória e psicologia para que o domínio fique
mais fácil.
Deveriam
também aproveitar os cultos e missas para abordar temas de interesse público e
não umbilical. As igrejas não devem se omitir da política. Precisam sair do
armário e assumir seu verdadeiro papel: educação e conscientização. A força da
fé reúne multidões num único espaço e numa única atmosfera, e isso, precisa ser
mais bem aproveitado. As igrejas precisam ensinar e esclarecer, e não
bajular. A política não deve ser meio de
fortalecer uma religião em detrimento de outras.
Assim
como os católicos, os evangélicos também caíram de cabeça na política. Todas as
igrejas tem projeto de poder. A maioria se comporta como partido político e tem
propósito de ganhar governos, prefeituras e bancadas nos parlamentos.
Quando
um pastor ou um padre orienta, direta ou indiretamente, a votar num determina
candidato, a discussão política torna-se intolerante e até discriminatória.
Além disso, quando elegemos “políticos religiosos”, a cidade corre um sério
risco, pois ao invés de obedecer a Constituição ou a sociedade civil, vão
satisfazer o interesse de suas respectivas igrejas. Infelizmente, muitos ainda
se orientam pelos apelos da Igreja. Esse é um dos principais freios do nosso
desenvolvimento.
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