Antônio Amaral
Queiroz Filho, o Dr. Gentileza, relata um pouco das experiências vividas na
advocacia e na política
Sempre
bem alinhado com blazers e ternos que não saem da moda, Antônio Amaral Queiroz
Filho, recebeu a reportagem da revista Matéria-Prima em seu gabinete na Câmara
Municipal, onde presta serviços de assessoria jurídica. Educado e gentil – daí
o apelido de Dr.Gentileza, foi logo oferecendo um cafezinho fresco, e entre uma
xícara e outra, relatou, pausadamente, a sua história na advocacia e na
política gameleira.
Nascido
em Capão Bonito em 1937, Antônio Amaral é filho de Antônio e Malvina Oliva, e
não esconde o orgulho dos pais. “Meu pai foi um lutador e um homem muito honesto,
e minha mãe, uma verdadeira santa. Acolhia e ajudava muita gente com sua imensa
espiritualidade”, conta.
Amaral
passou uma infância comum, assim como os demais meninos da época. Antes mesmo
de entrar na fase adulta, se apaixonou pelas ondas do rádio. Ouvia música e se
informava por aquele aparelhinho mágico. Gostava tanto daquele tipo de
comunicação, que se transformou num dos melhores radialistas que passou por
essa terra. Com uma voz acentuada e agradável, conquistou milhares de ouvintes
capão-bonitenses, tanto da zona urbana como na rural.
Seu
nome ganhou notoriedade e em 1959, decidiu concorrer a uma vaga no Legislativo,
mesmo sabendo que naquele tempo, o vereador não tinha salário, era um
legislador voluntário. Conquistou uma vaga na Câmara Municipal e foi um dos
líderes da campanha vitoriosa do médico Raul Venturelli à prefeitura, mesmo
contrariando sua família, que apoiavam Oscar Kurtz Camargo.
Amaral
venceu quatro eleições para vereador. Foram 16 anos trabalhando pelo município
sem receber um centavo sequer de subsídio ou salário. Mas, a atuação
legislativa lhe rendeu outras riquezas: conhecimento e experiência, que segundo
ele, “não se compra em qualquer mercearia”.
Paralelamente
à função legislativa, Antônio Amaral trabalhava como auxiliar no escritório do
advogado Ismael Estival, e foi ali que aprendeu os primeiros macetes jurídicos.
Foi também colaborador do antigo jornal O Bandeirante e virou amigo pessoal do
saudoso jornalista e tipógrafo Queirozinho (Antônio Benedito Queiroz).
A
amizade entre os dois era tão intensa que o jornalista, mesmo sendo evangélico,
atendeu um pedido do amigo para escrever uma pequena biografia em homenagem ao
Papa João XXIII, que virou nome de praça em Capão Bonito, com indicação de
Antônio Amaral e justificativa de Antônio Queiroz.
A advocacia
Depois
de concluir o ensino normal (Ensino Médio) com apoio do professor Laudelino de
Lima Rolim e do também amigo Antônio Roque Citadini – hoje conselheiro do
Tribunal de Contas do Estado de São Paulo -, Antônio Amaral ingressou no curso
de Direito nas Faculdades Integradas de Itapetininga (FII-FKB) e no ano de
1975, já com o diploma de bacharel em Direito, foi aprovado no exame da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB-SP).
Iniciou
seu exercício profissional desbravando a Comarca e enfrentando a concorrência
de advogados tradicionais e experientes como Celso Tristão de Lima. Não
titubeou e aos poucos, foi ganhando seu espaço de forma ética e honesta. Nunca
precisou “puxar o tapete” dos colegas de profissão para obter vantagens na
profissão.
Relata
o caso de um réu surdo-mudo como uma de suas causas favoritas. Segundo ele, o
surdo-mudo foi acusado de duplo homicídio (mãe e irmão). Sem condições
financeiras para contratar um defensor, o juiz da época nomeou Antônio Amaral
para a causa. Percebendo a dificuldade de comunicação do réu, o jovem advogado
foi atrás de um intérprete, e achou um padre com as habilidades que
necessitava.
O
caso virou assunto nacional, depois de uma reportagem transmitida pela Rede
Globo. Amaral mergulhou de cabeça na defesa. Investigou a vida do acusado e
percebeu que o réu era, na verdade, vítima. Com auxílio do intérprete,
conseguiu a absolvição do surdo-mudo.
Com
mais de 30 anos de profissão, Antônio Amaral não quer parar tão cedo. Diz que
enquanto tiver saúde, continuará m atividade. Ele também elogia a nova geração
de advogados que está se formando na cidade e cita como exemplo o
capão-bonitense, atual Delegado da Polícia Federal, Flori Cordeiro de Miranda
Júnior. “É um expoente da atual geração. A Justiça Federal ganhou um grande
profissional, mas a advocacia ficou desfalcada”.
Política
Além
dos anos de prestação de serviço no Legislativo, Antônio Amaral arriscou passos
maiores na política local. Disputou duas eleições para o Poder Executivo, mas,
infelizmente, a cidade não teve o privilégio de ser comandada por um cidadão de
conduta exemplar.
Na
primeira eleição majoritária, teve o apoio moral do então prefeito da época,
Cônego Pedro José Vieira. Fez uma campanha limpa, pedindo voto de casa em casa
e de sítio em sítio. Mesmo assim, não obteve os votos necessários para subir a
rampa. Aponta a falta de dinheiro na reta final como um dos pontos que o
levaram a derrota.
Ficou
12 anos sem disputar eleições, mas em 1988, novamente embalado pelo grupo
político que o acompanhava, disputou a Prefeitura novamente contra um jovem
aventureiro, José Carlos Tallarico Junior (Junior Tallarico). Sofreu nova
derrota e reconheceu um erro crucial cometido nas vésperas da eleição: Subiu no
palanque do comício final com umas doses a mais de bebida alcoólica e acabou se
atrapalhando com as palavras e os verbos que tanto dominava. “Bebida e emoção
não combina. Acabei me atrapalhando”, justificou.
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