Nasci
em 1980, ano da morte do poeta do amor: Vinicius de Moraes. Apesar de não ter
vivido o auge da juventude brasileira nas décadas de 60 e 70,, mergulhei de
cabeça em muitos livros da época. Foram dezenas de obras literárias como a
trilogia de Elio Gaspari sobre a Ditadura Militar, a recente biografia de João
Goulart e o Golpe que cessou a democracia naquele período. As perseguições
contra a Imprensa – desde os tradicionais até os alternativos (O Movimento,
Pasquim, Revista Realidade...), o assassinato de Vlado, enfim, tantos outros
livros que formaram um conjunto de signos em meu sistema neurológico.
Era
muito difícil ser jovem nos anos 60. Repressão nos costumes, repressão sexual,
repressão política, acesso limitadíssimo ao ensino, magras possibilidades de
profissão, exigência de roupas e comportamentos formais: era uma situação que
nem todos percebiam, mas sentiam, assim entendo.
Uma
simples frase dos compositores Marcos e Paulo Valle definiu toda aquela revolta
que se instalou no Brasil depois do golpe de 64. A música “Não confio em ninguém com mais de 30”, estourou nas paradas de
sucesso. Havia uma divisão grosseira – e sem dúvida, injusta – que parte da
sociedade usava para rotular os jovens. De um lado os “alienados”: que curtiam
o iê-iê-iê da Jovem Guarda e se desligavam dos problemas sociais. Hoje, os
mesmos alienados trocaram o iê-iê-iê pelo Tchê Tchê Re Re de Gustavo Lima.
Do
outro, os politizados: discutiam a sociedade, eram próximos de alguma entidade
estudantil ou social e curtiam Chico Buarque e outros mestres da MPB. Hoje,
ouvem em seus iphones e smartphones cantores como Renato Russo, e transformam
as canções em frases de protesto.
A
divisão de ontem e de hoje ainda existe e esquece-se de uma grande maioria,
preocupada apenas com seu futuro, sua sobrevivência, seus empregos. Também
esquece a falta de acesso a Educação de qualidade pelos ditos alienados. Mas,
nesses mesmos alienados, há uma veia de insatisfação com o atual sistema
político brasileiro. Estão cansados e fartos dessa peça quadrada chamada
“Governo”.
Os
jovens dos anos 60 continuam influenciando os jovens que se organizaram pelo
Facebook e encheram as vias públicas das principais cidades brasileiras nesta
semana, seguindo o exemplo dos manifestantes da Praça Tahir, no Cairo. Mas não podemos nos esquecer de apenas um
detalhe: no Egito lutavam pelo fim da tirania, aqui temos uma Democracia, e
muitos daqueles que hoje gritam pelas ruas, sabem o verdadeiro significado
deste termo.
Temos
que destacar ainda a estratégia da grande mídia de aderir ao movimento, sendo
ela uma das um dos temas de revolta. E os filhinhos de papai que estopem a USP,
a Unicamp e outras universidades bancadas com o dinheiro do povo, e encabeçam
as manifestações em SP? Tudo tem que ser muito bem analisado antes de qualquer
decisão!
Erra
o PT ao tentar passar a mão na cabeça dessa minoria da classe média. As
manifestações não é um problema de polícia, e sim de política, e é aí que o PT
erra. A vacina para uma manifestação de oposição é outra manifestação da
situação. Quem fique bem claro que não sou partidário do PT, mas os
estrategistas do partido deveriam organizar uma manifestação em plena avenida
paulista a favor da Bolsa Família, da redução de tributos como IPI, da Minha
Casa Minha Vida, do Prouni, da Copa do Mundo da Olimpíadas de 2016, enfim,
atrairia milhões e milhões de pessoas e daria uma aula de democracia, e sem
quebra-quebra! Ou vocês acham que os líderes dessas manifestações votaram na
Dilma?
A verdadeira resposta disso tudo está com os próprios manifestantes,
mas são diferentes que talvez nem eles tenham ainda respostas. Algo ocorre. O
quê, ninguém sabe exatamente. Falar apenas em melhorias na Educação, Saúde e
combater a corrupção é algo muito vazio! Por enquanto, a Marcha para Jesus tem
muito mais contexto que essas manifestações.
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