Andava pelas
ruas e era idolatrado pelas crianças, donas-de-casa, pelos trabalhadores
rurais, enfim, pelo povo mais simples
Será
difícil Capão Bonito produzir um político popular e carismático como o ex-prefeito
Abib Elias Daniel, o Abílio Turco. Este ano, completa-se 30 anos que a
população perdeu um de seus maiores líderes políticos num trágico acidente
automobilístico. O ex-prefeito morreu no dia 23 de dezembro de 1983, mas mesmo
assim, muita gente ainda se recorda e sente saudades daquele moreno alto e
simpático que, por onde passava, era respeitado e admirado.
Filho
de Elias Jorge Daniel e de latife José Daniel, Abilío nasceu no dia 1º de
outubro de 1928 no município de Itapetininga, e em 1952, botou seus pés em
Capão Bonito e daqui nunca mais saiu. Com o sangue de comerciante na veia que
herdou de seus antepassados, logo conquistou a clientela local, e deste jeitão
de bom negociador, nasceu o apelido carinhoso que o consagraria na política:
Abílio Turco.
Assim
como seus pais, adorava conversar com os clientes, contar histórias... Só
deixou a profissão de comerciante para assumir o posto de Delegado de Polícia.
Foi durante seu exercício no comando da Polícia que a cidade ganhou sua
Circunscrição de Trânsito, órgão responsável pelo licenciamento e registro de
veículos.
A
função o colocou em contato direto com a política. Como delegado participava de
audiências com autoridades, cerimônias, inaugurações, e aos poucos, a político
foi entrando na sua vida. Deixou a carreira policial em 1956 para disputar sua
primeira eleição. Foi candidato a vereador e não imaginava que aquele cargo
público, até então não remunerado, seria o primeiro degrau para torná-lo o
político mais popular da história de Capão Bonito.
Na
Câmara, se destacava pelos discursos simples e convincentes, sempre a favor dos
mais humildes. Como legislador, criou Leis importantes e que favorecem a
inclusão social de muitas famílias carentes. Ganhou notoriedade entre os
caciques da época, e em 1964, foi convidado a formar chapa com o ex-prefeito
Oscar Kurtz Camargo, e a dupla Oscar-Abílio virou moda e caiu na graça do povo.
Venceram
a eleição e, juntos, realizaram obras e projetos que até hoje são referências
de ousadia e de arrojo. Foi no mandato Oscar-Abílio que a cidade ganhou um
moderno Centro de Cultura Física (Antiga Piscina) com quadra poliesportiva,
piscinas, jardins, parque de diversão, salão de teatro e uma lanchonete com
arquitetura futurista para os padrões da época. Infelizmente, décadas depois,
aquilo que deveria ser preservado como patrimônio de Capão Bonito, foi
descaracterizado pelo ex-prefeito Roberto Tamura, que praticamente destruiu
todo aquele complexo que um dia foi o “orgulho do capão-bonitense”.
Com
a morte do parcerio Oscar Kurtz em 1968, Abílio virou o mais forte concorrente
na disputa pela Prefeitura. Pleiteou o cargo de prefeito e venceu. Tomou posse
em fevereiro de 1969, em plena ditadura militar, e desde seu primeiro dia de
trabalho como chefe do Executivo, buscou melhorias para sua terra, para sua
gente.
Em
1970, liderou uma das maiores campanhas populares da região. Tomou a frente e
levou milhares de pessoas à praça Rui Barbosa para discutir os problemas
energético que a cidade enfrentava. No dia 05 de novembro do mesmo ano, o
governador paulista da época, Abreu Sodré, cedeu às pressões políticas e
anunciou, num suntuoso evento em praça pública, a substituição administrativa
no controle e distribuição de energia elétrica no município. Entrou a estatal
Cesp e saiu a ineficiente Companhia Hidroelétrica Paranapanema. Aquela
iluminação fraca e oscilante virou coisa do passado e Abílio colheu os louros
políticos do avanço.
No
fim de seu primeiro mandato na Prefeitura, estudou e criou a primeira Lei de
incentivo à Indústria, que concedia incentivos fiscais às novas empresas e
núcleos industriais que viessem a se instalar no município. Anos mais tarde, a
fábrica de cimentos Itabira S/A iniciava a construção unidade em Capão Bonito,
numa área hoje pertencente ao município de Ribeirão Grande.
Na
eleição seguinte, em 1972, usou sua popularidade para fazer o sucessor na
Prefeitura. Uniu o católico e o evangélico no mesmo palanque – Padre Pedro e
Cornélio Batista – para derrotar o jovem idealista Antônio Roque Citadini, hoje
presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Quatro anos depois, seus
aliados de 72, viraram seus adversários políticos.
Padre
Pedro apoio o advogado Antônio Amaral, mas mesmo assim, deu o mais popular, deu
Abílio. A eleição foi uma das mais competitivas da história política gameleira
e deste pleito surgiu uma peça folclórica até hoje contada nos botecos da
cidade: Pato x Macaco, uma representação simbólica da disputa entre Amaral e
Abílio. Ambos adotaram o símbolo e jamais se irritaram com a referência.
Pela
segunda vez Abib Elias Daniel assumia a comando do Poder Executivo local com
uma cidade pulsando uma novo sangue econômico com o início das atividades da
Fábrica de Cimento e com quase 90% de abastecimento de água e tratamento de
esgoto. Abílio aproveitou o “boom” e tocou obras importantes: construiu o Arcão
(mesmos sem o documento legal da área), rasgou avenidas como a Massaichi
Kakihara, Santos Dumont e Ademar de Barros, pavimentou uma pista de Aeroporto e
construiu o novo Paço Municipal.
Como
todo político, Abílio não era uma unanimidade. Por ser popular e carismático, e
muitas vezes sortudo, conquistou muitos adversários, que o classificavam como
assistencialista, porém, a crítica jamais o abalava. Andava pelas ruas e era
idolatrado pelas crianças, donas-de-casa, pelos trabalhadores rurais, enfim,
pelo povo mais simples. E foi assim, com o apoio dos humildes que se
transformou nesta lenda: O prefeito do povo.
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