A frase que abre esse artigo foi imortalizada pelo
narrador esportivo Fiori Giglioti. Essa citação encaixou perfeitamente neste
contexto político-futebolístico. Dizem por aí que para obter sucesso na vida, é
preciso estar na hora certa e no momento certo. Digamos então que escrever
sobre a coisificação dos homens e a humanização dos produtos da indústria
cultural num período que surge novamente o maior evento manipulador do mundo (a
Copa do Mundo) é, com certeza, um privilégio de poucos.
As cortinas estão abertas, e o espetáculo midiático
e publicitário da Copa do Mundo está em processo de digestão nos cérebros dos
brasileiros. Novamente nos tornamos apêndices das ‘coisas’. O capitalismo
futebolístico está no mesmo estágio da lógica do Papai Noel – a satisfação de
uma necessidade infantil. A Indústria Cultural influencia decisivamente nesta
“Ávora” de gramas e arquibancadas. Podemos também comparar esse espetáculo às
sanguinárias competições do Coliseu de Roma. Aqui, nossos gladiadores são
outros: Neymar, Fred, Davi Luiz... São chamados de jogadores, mas na realidade
são produtos previamente planejados para, numa eventual vitória brasileira, se
transformarem em verdadeiros heróis num país cheios de conflitos sociais e
dominado hoje pelas manifestações populares. É um país do show, do espetáculo,
pois investe bilhões na construção de estádios em regiões sem tradição futebolística,
ao invés de levar água tratada para milhares de famílias que lá necessitam.
O futebol/produto é uma mercadoria de felicidade,
principalmente para os consumidores das camadas mais baixas, com escolaridade
reduzida e com uma desanimadora perspectiva de vida. Mas, mesmo assim, essa
classe consome felicidade, não de bens (carros, mansões, jóias...), mas de
estética e seduções esportivas.
Infelizmente, o futebol reflete um pouco da nossa
realidade e somos cúmplices deste sistema. Por exemplo, qual foi a nossa reação
em relação aos últimos acontecimentos envolvendo violência e futebol. Apenas
reclamamos com discursos contra as torcidas organizadas e contra as autoridades
que não tomam providências. Nossa retórica é contestadora, mas nossa prática, mediante
a omissão, é apoiar um sistema violentíssimo. Nesta sociedade, o que vale é a
aparência, e não a essência, ou seja, só se aparenta o que não é.
Futebol, hoje, é espetáculo, e a Copa do Mundo é
uma das principais peças de manipulação e rentabilidade econômica. A adoração à
Seleção Canarinho é a crença legitimadora dessa situação. O amor à Pátria é
acoplado e explorado pelos especialistas, que para vender heróis e mitos, não
economizam na exploração da ignorância. Vale tudo para o espetáculo ser aplaudido
e consumido. Este “futebol” faz parte de um núcleo que planeja com extrema
competência a ignorância do que acontece e o esvaziamento do que aconteceu.
Por outro lado, assistimos os nossos negros e
mulatos virando “Rei”, coisa que seria praticamente impossível em outro campo.
Por isso, continuarei vibrando com os dribles de Neymar, com os gols de Fred ,
com a raça de Paulinho e principalmente com a força de vontade do nosso
Felipão. Começamos a busca pela sexta estrela e para isso o espetáculo tem de
continuar. Parabéns Brasil, pelas manifestações e pela Copa das Confederações!
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