Não
tive a oportunidade conhecer pessoalmente Ruy Mesquista. Sequer cheguei a
trocar algumas palavras com o jornalista, porém, Dr. Ruy foi um belo professor
de Jornalismo. Acompanhei quase todos seus editoriais no Estado de São Paulo, e
por isso, mesmo aqui, das escrivaninhas do interior, quero deixar minha singela
homenagem em forma de texto a este grande homem das letras brasileiras.
Fui
e, continuarei sendo, um leitor assíduo de Ruy Mesquita. Seu corpo, sua carne
se vão, mas suas obras serão eternas e servirão para muitas futuras gerações de
jornalistas. O fato de ler não significa concordar, e discordei de muita coisa
que explanou em seus editoriais. Mas é isso que alimento o bom jornalismo: a adversidade.
Respeitar a opinião contrária a sua, digo que é uma arte para poucos, para
raros cidadãos.
No
fim do ano passado, li a obra do jornalista Osmar Pilagallo intitulada: a
História da Imprensa Paulista. Lá descobri que a família de Ruy Mesquista foi
combatente direta na Revolução Constitucionalista de 32, defendendo, é lógico,
os ideais paulistas. O menino Ruy tinha apenas sete anos, mas o suficiente para
obter um DNA que o influenciaria nas futuras posições como homem das letras.
Seu
ingresso no Jornalismo foi conturbado. No início de sua carreira, o Estado Novo
de Getúlio Vargas interviu no jornal da família (O Estado de S.Paulo) e somente
devolveu aos legítimos proprietários no fim da ditadura getulista. Esse fato
transformou Dr. Ruy num dos mais combatentes opositores da política de Getúlio
Vargas. Chegou a ser chamado de “comunista” pelos simpatizantes do getulismo.
Com
o suicídio de Vargas, Ruy, que lia tudo que lhe caía às mãos sobre política e
relações internacionais, encampou um novo movimento editorial-jornalístico, a
derrubada de João Goulart (Jango). Uniu-se, por objetivos similares, aos
Militares e ajudou, com suas armas textuais, a depor o sucessor da política
getulista. Nunca afinou nas interpretações. Seus artigos eram claros, concisos
e corajosos, características que o tornaram um grande jornalista, e que tento
copiar e seguir, sem medo das togas da injustiça e dos símbolos da capa preta.
Da
mesma forma que compôs com os Militares, não teve dificuldades para também
romper relações quando via suas convicções políticas ameaçadas. Os atos
institucionais foram a gota d’água para que Dr. Ruy entrasse na luta pela volta
da Democracia. No comando do Jornal da Tarde, inovou e conseguiu transformar
informações complexas daquele período de chumbo em textos compreensíveis,
principalmente para os jovens da época.
Também
foi dele a ideia de colocar receitas de culinária e trechos dos “Lusíadas”, de
Camões, no lugar das notícias e reportagens censuradas pela Ditadura Militar.
Era liberal e conservador e combateu desde o Getulismo ao Petismo. O Brasil
perdeu um grande cidadão, com opiniões claras e convictas, e nós, jornalistas,
um grande mestre. Obrigado pelos ensinamentos Dr. Ruy!
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