Monsenhor Pedro
José Vieira foi de tudo um pouco em Capão Bonito.
Além da batina,
teve cargos desde diretor de colégio até prefeito
A
história de Capão Bonito tem uma peculiaridade interessante: a cidade produziu
uma espécie rara de padre. O poeta Juraci Braz das Chagas criou uma frase que
muito bem representa essa diferença de batina: “Capão Bonito teve o padre dos
passos, e o padre do Paço (uma referência a padre Arlindo Vieira e a padre
Pedro José Vieira)”.
Para
entender a vida e a carreira do padre que nasceu em Pereiras e se estabeleceu
em Capão Bonito, é preciso tratar o assunto de outra ótica: O capão-bonitense
sempre foi e é católico e religioso, ingredientes que o transforma num perfil
conservador, e foi através dessa tradição, que Pedro José Vieira se transformou
numa das principais personalidades deste chão gameleiro.
Nasceu
no ano de 1923 na pequena cidade de Pereiras. Passou a infância e adolescência
na terra natal e em seguida, cursou o extinto ginásio no município de Botucatu
e o colegial em Sorocaba. Nessa época, decidiu que seria padre, e para isso,
iniciou o curso de Filosofia e Teologia na Faculdade Ipiranga e fez uma pequena
complementação filosófica na Faculdade de Mogi das Cruzes.
Foi
também nos estudos religiosos que Pedro Vieira demonstrou suas primeiras
habilidades com a política. Aproximou-se de professores e diretores, e fez boas
amizades dentro da Academia Católica. Virou padre, oficialmente, em 1948.
Sua
aptidão para as Relações Públicas o levou a um importante cargo da época. Foi
secretário particular de Dom José de Aguirre – primeiro bispo diocesano de
Sorocaba. Também passou pelas paróquias de Porto Feliz, Itaí e Paranapenema e
no dia 22 de janeiro de 1957, bota o pé em Capão Bonito.
Usou
sua influência como comandante da Paróquia para melhorar a eficiência dos
serviços prestados pelas entidades sociais daquela época. Antes de mergulhar na
atividade social, reorganizou todo o sistema administrativo da Paróquia Nossa
Senhora da Conceição, tornando-a uma das mais organizadas da região. Foi um dos
fundadores da Legionários em Defesa do Menor (Casa do Menor), provedor da Santa
Casa de Misericórdia e presidente do Asilo São Vicente de Paula.
Seu
jeitão simples de caboclo conquistou os fiéis capão-bonitenses, principalmente
os da zona rural. Assim como padre Arlindo Vieira, que andou por quase todos os
cantos rurais de Capão Bonito em nome da palavra de Deus, Padre Pedro, o
Pedrão, também teve sua peregrinação pelas comunidades católicas rurais.
Os
tempos eram outros, e Padre Pedro teve mais conforto que Padre Arlindo para
levar o catecismo às localidades mais distantes de Capão Bonito. Visitava
famílias desde o Taquaral Abaixo ao bairro dos Proenças. Na morada mais simples
– aquelas batidas a barro – era recebido com uma modesta caneca de café, e nas
fazendas mais produtivas, o chefe da família oferecia quase um banquete
medieval, com direito a uma suculenta leitoa a pururuca, uma das comidas
prediletas do Pedrão.
Com
a popularidade em alta com o povão, Padre Pedro tratou, também, de ganhar espaço
e respeito dos homens e mulheres da sociedade capão-bonitense. Não foi difícil,
e aos poucos foi se misturando aos importantes do setor econômico e político do
município. Montaram até uma espécie de clubinho, que ganhou o apelido de
“Tatu”. Sempre em tom de brincadeira, fazia questão de falar sobre seu time do
coração, o Palmeiras, que naquela época tinha uma verdadeira academia de
craques. Também molhava a boca numa pequena dose de pinga cabocla, mas jamais
abusou. O cigarro era outro de seus costumes.
A política
Convidado
para abençoar as obras públicas e as cerimônias oficias da Prefeitura, Padre
Pedro foi, de passo em passo, se aproximando do mundo político. Acompanhou, por
inúmeras vezes, as comitivas de políticos que saiam de Capão Bonito rumo à
capital paulista em busca de recursos.
A
dupla Padre Pedro e Cornélio Batista disputaram o pleito contra o jovem líder
do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) Antônio Roque Citadini, hoje
presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. No auge da ditadura
militar, Capão Bonito manteve seu estilo conservador e elegeu o padre e o pastor.
Como
prefeito o Padre promoveu uma verdadeira mudança administrativa na
Municipalidade. Adotou técnicas modernas de gestão, e acabou com os
“esqueminhas” que predominavam até então. Se Abílio Turco imaginava que o padre
seria apenas uma peça do xadrez de seu tabuleiro político, se enganou. Padre
Pedro construiu um modelo político bem diferente do padrinho.
Como
prefeito, se aproximou dos comandantes militares. Aproveitou a amizade que
construiu com o ex-governador Paulo Egídio Martins para trazer dividendos para
Capão Bonito, e conseguiu. No fim de seu mandato, a cidade virou referência em
abastecimento de água e tratamento de esgoto.
Acelerou
o departamento de Obras e deu uma nova cara a cidade abrindo ruas e avenidas.
Construiu um novo acesso para a vila Santa Rosa, potencializou a criação de
bairros como a Vila São Paulo e Nova Capão Bonito. Conseguiu recursos para a
construção da hoje escola Mieldazis e para a Casa da Agricultura.
Tinha
um carinho especial pelo povo do Ribeirão Grande e foi em seu governo, que
aquela localidade começou a respirar ares de independência. Padre Pedro
instalou a subprefeitura do Ribeirão Grande, abriu novos acessos e promoveu
diversas obras de infraestrutura. Foi o primeiro passo para a emancipação.
Deixou
a Prefeitura em 1976 e nunca mais voltou. Seus últimos dias de vida foram
dedicados aos projetos sociais e à missão sacerdotal. Morreu em 1989, deixando
a seu povo o exemplo de homem público e de um sacerdote voltado às causas
sociais. Um padre multifuncional!
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