sexta-feira, 17 de abril de 2015

Um Santo Capão-Bonitense?



Padre, Missionário ou Santo? Quando se trata de Arlindo Vieira, é comum que opiniões se dividam, gerando cisões muitas vezes inconciliáveis. Em uma cidade marcada pelo catolicismo, já era hora de escrevermos sobre o maior lidere religioso que Capão Bonito já teve: Padre Arlindo Vieira, ou melhor, o Santo Capão-Bonitense.

Sua trajetória exibe os traços de verdadeiros heróis. Situa-se entre os homens que deixaram suas marcas neste mundo e não apenas passaram por ele. Quem passava pela rua General Carneiro, já notava no pequeno Arlindo Vieira sua vocação religiosa e sua preocupação com os mais humildes.

Numa época dominada pelo poder econômico e a política dos grandes coronéis, Padre Arlindo simbolizou a valorização dos mais pobres na Igreja Católica. Enfrentou o sol ardente, chuvas e os campos íngrimes, para levar até os moradores da roça, a palavra de Deus, para manter viva sua fé.

Jamais se curvou aos poderosos, e aliou-se aos trabalhadores do campo, em defesa de melhores condições, de melhores salários. Com habilidade e inteligência mostrou a todos, ricos e pobres, que os ensinamentos católicos era uma forma de ascensão social.

Seus pais, Francisca e o Major Pedro Augusto Vieira, escolheram Capão Bonito para viver e aqui ele nasceu, brincando pelos campos que circundavam a nossa majestosa Matriz Nossa Senhora da Conceição.

A vocação sacerdotal
Arlindo Vieira nasceu no dia 19 de julho de 1897, e desde menino dava sinais de vocação sacerdotal e comandava todas as orações familiares. Percebendo a forte vocação, seus pais o matricularam no colégio São Luis de Itu, onde foi adquirindo para seguir sua missão: multiplicar a palavra de Deus.

Após sua passagem por Itu, Arlindo foi para o seminário de Botucatu, ordenando-se padre em 1920. Sua dedicação, carisma e boa comunicação o transformaram no grande líder do grupo de seminaristas.

Sua primeira atividade como padre foi na cidade de Avaré, onde atuou por um ano, e logo seguiu para a Europa para realizar o grande sonho de estudar na Universidade Gregoriana de Roma.

O Missionário do povo
Depois de sua atuação marcante na reforma de ensino em 1942, a convite do ex-ministro da Educação, Gustavo Capanema, Padre Arlindo encontrou sua destinação definitiva: pregar ao povo. De trem, ônibus, a cavalo, bicicleta e principalmente a pé, percorreu os mais distantes rincões do interior brasileiro, especialmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais. A princípio, seu itinerário detinha-se também nas cidades medias e grandes, mas seu “Dom Divino” fez com que se dedicasse aos lugares mais pobres, abandonados e esquecidos até mesmo pela própria Igreja católica, que reinava absoluta na época.

Foram mais de 20 anos de pregações levando a palavra de Deus. E foi por essas peregrinações que Padre Arlindo se encantou pelo povo da roça, encontrando um ambiente de fé viva e esperança, apesar das dificuldades que ali imperava. Mesmo sem a presença de padres e igrejas, aqueles homens, mulheres e crianças da roça viviam diariamente o cristianismo, graça a vocação e a bondade do Santo Capão-Bonitense. O povo do campo cultuava as procissões, os longos sermões, os foguetórios em dias de Santo, a beleza das imagens e as cerimônias tocantes, outra especialidade de Padre Arlindo.

Suas missões em Capão Bonito
A terra natal de Padre Arlindo não poderia ficar de fora de seu roteiro de peregrinação. Por aqui ele fez várias visitas, dando preferência sempre às pequenas capelas dos povoados rurais.  Sua primeira passagem missionária pela cidade foi em 1941, conforme conta um de seus relatos: “Tinham-me dito iria encontrar séria resistência por parte do povo da cidade, frio e indiferente”, disse.

Depois de quase sete décadas, parece que o nosso povo ainda carrega tais adjetivos. Apesar da falta de entusiasmo, Padre Arlindo começou sua missõa com uma pregação calorosa na Igreja Matriz, com a presença de 400 fiéis.

Em Capão Bonito, Padre Arlindo teve algumas desavenças com alguns espíritas, principalmente com José Maria Aliaga, que escreveu um artigo publicado na imprensa local, atacando o padre Missionário. Em seu diário, Padre Arlindo falava de sua alegria de trabalhar na terra onde nasceu. “Em Capão Bonito passei dias muito felizes em várias capelas. O povo da roça conserva grande apego a religião católica”, falou.

A beatificação
Além da vida dedicada às missões e ao ensino brasileiro, Padre Arlindo também tinha dotes artísticos. Por muitos anos manteve um programa semanal e rádios cariocas, e foi articulista de grandes jornais da época, como o Diário de Notícias, onde se tornou amigo pessoal de Carlos Lacerda. Seu poder de comunicação manifestou-se também como compositor de músicas sacras. Até hoje, quem acompanha as missas da Matriz, aprecia suas composições, que já foram interpretadas inclusive pelo grupo musical “Flor do Panema”.

Os último dias de sua vida foram dedicados ao povo do interior de Minas Gerais, principalmente na região de Mariana, hoje Diogo de Vasconcelos. Na igreja desta cidade, reunia verdadeira multidão para ouvir suas palavras. O amor por aquele povo era tão intenso, que sempre manifestava o seu grande desejo: o dia que tivesse que partir, que fosse em meio aquele povo, e se Deus assim permitisse, enquanto rezava com ele. E assim foi: em 04 de agosto de 1963, logo após celebrar uma missa em homenagem ao santo padroeiro da cidade, caiu morto aos pés do altar. Suas últimas palavras foram “quod ore sumpisimes”. A notícia chegou a Capão Bonito, e a população chorou e lamentou a partida do santo gameleiro.

Após sua morte, vários milagres foram atribuídos a Padre Arlindo Vieira, os quais foram relatados pelo arcebispo da cidade de Mariana (MG). Em 1985, o padre jesuíta Murilo Moutinho iniciou a coleta de depoimentos, documentos e relatos sobre a vida e os possíveis milagres interceptados por Padre Arlindo. Tudo isso foi reunido em um livro, que será enviado ao Vaticano para o processo de sua beatificação.








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