sexta-feira, 17 de abril de 2015

Dr. Gentileza



Antônio Amaral Queiroz Filho, o Dr. Gentileza, relata um pouco das experiências vividas na advocacia e na política




Sempre bem alinhado com blazers e ternos que não saem da moda, Antônio Amaral Queiroz Filho, recebeu a reportagem da revista Matéria-Prima em seu gabinete na Câmara Municipal, onde presta serviços de assessoria jurídica. Educado e gentil – daí o apelido de Dr.Gentileza, foi logo oferecendo um cafezinho fresco, e entre uma xícara e outra, relatou, pausadamente, a sua história na advocacia e na política gameleira.

Nascido em Capão Bonito em 1937, Antônio Amaral é filho de Antônio e Malvina Oliva, e não esconde o orgulho dos pais. “Meu pai foi um lutador e um homem muito honesto, e minha mãe, uma verdadeira santa. Acolhia e ajudava muita gente com sua imensa espiritualidade”, conta.

Amaral passou uma infância comum, assim como os demais meninos da época. Antes mesmo de entrar na fase adulta, se apaixonou pelas ondas do rádio. Ouvia música e se informava por aquele aparelhinho mágico. Gostava tanto daquele tipo de comunicação, que se transformou num dos melhores radialistas que passou por essa terra. Com uma voz acentuada e agradável, conquistou milhares de ouvintes capão-bonitenses, tanto da zona urbana como na rural.

Seu nome ganhou notoriedade e em 1959, decidiu concorrer a uma vaga no Legislativo, mesmo sabendo que naquele tempo, o vereador não tinha salário, era um legislador voluntário. Conquistou uma vaga na Câmara Municipal e foi um dos líderes da campanha vitoriosa do médico Raul Venturelli à prefeitura, mesmo contrariando sua família, que apoiavam Oscar Kurtz Camargo.

Amaral venceu quatro eleições para vereador. Foram 16 anos trabalhando pelo município sem receber um centavo sequer de subsídio ou salário. Mas, a atuação legislativa lhe rendeu outras riquezas: conhecimento e experiência, que segundo ele, “não se compra em qualquer mercearia”.

Paralelamente à função legislativa, Antônio Amaral trabalhava como auxiliar no escritório do advogado Ismael Estival, e foi ali que aprendeu os primeiros macetes jurídicos. Foi também colaborador do antigo jornal O Bandeirante e virou amigo pessoal do saudoso jornalista e tipógrafo Queirozinho (Antônio Benedito Queiroz).

A amizade entre os dois era tão intensa que o jornalista, mesmo sendo evangélico, atendeu um pedido do amigo para escrever uma pequena biografia em homenagem ao Papa João XXIII, que virou nome de praça em Capão Bonito, com indicação de Antônio Amaral e justificativa de Antônio Queiroz.

A advocacia
Depois de concluir o ensino normal (Ensino Médio) com apoio do professor Laudelino de Lima Rolim e do também amigo Antônio Roque Citadini – hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo -, Antônio Amaral ingressou no curso de Direito nas Faculdades Integradas de Itapetininga (FII-FKB) e no ano de 1975, já com o diploma de bacharel em Direito, foi aprovado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP).

Iniciou seu exercício profissional desbravando a Comarca e enfrentando a concorrência de advogados tradicionais e experientes como Celso Tristão de Lima. Não titubeou e aos poucos, foi ganhando seu espaço de forma ética e honesta. Nunca precisou “puxar o tapete” dos colegas de profissão para obter vantagens na profissão.

Relata o caso de um réu surdo-mudo como uma de suas causas favoritas. Segundo ele, o surdo-mudo foi acusado de duplo homicídio (mãe e irmão). Sem condições financeiras para contratar um defensor, o juiz da época nomeou Antônio Amaral para a causa. Percebendo a dificuldade de comunicação do réu, o jovem advogado foi atrás de um intérprete, e achou um padre com as habilidades que necessitava.

O caso virou assunto nacional, depois de uma reportagem transmitida pela Rede Globo. Amaral mergulhou de cabeça na defesa. Investigou a vida do acusado e percebeu que o réu era, na verdade, vítima. Com auxílio do intérprete, conseguiu a absolvição do surdo-mudo.

Com mais de 30 anos de profissão, Antônio Amaral não quer parar tão cedo. Diz que enquanto tiver saúde, continuará m atividade. Ele também elogia a nova geração de advogados que está se formando na cidade e cita como exemplo o capão-bonitense, atual Delegado da Polícia Federal, Flori Cordeiro de Miranda Júnior. “É um expoente da atual geração. A Justiça Federal ganhou um grande profissional, mas a advocacia ficou desfalcada”.

Política
Além dos anos de prestação de serviço no Legislativo, Antônio Amaral arriscou passos maiores na política local. Disputou duas eleições para o Poder Executivo, mas, infelizmente, a cidade não teve o privilégio de ser comandada por um cidadão de conduta exemplar.

Na primeira eleição majoritária, teve o apoio moral do então prefeito da época, Cônego Pedro José Vieira. Fez uma campanha limpa, pedindo voto de casa em casa e de sítio em sítio. Mesmo assim, não obteve os votos necessários para subir a rampa. Aponta a falta de dinheiro na reta final como um dos pontos que o levaram a derrota.

Ficou 12 anos sem disputar eleições, mas em 1988, novamente embalado pelo grupo político que o acompanhava, disputou a Prefeitura novamente contra um jovem aventureiro, José Carlos Tallarico Junior (Junior Tallarico). Sofreu nova derrota e reconheceu um erro crucial cometido nas vésperas da eleição: Subiu no palanque do comício final com umas doses a mais de bebida alcoólica e acabou se atrapalhando com as palavras e os verbos que tanto dominava. “Bebida e emoção não combina. Acabei me atrapalhando”, justificou.




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