sexta-feira, 17 de abril de 2015

Obrigado Dr. Ruy!



Não tive a oportunidade conhecer pessoalmente Ruy Mesquista. Sequer cheguei a trocar algumas palavras com o jornalista, porém, Dr. Ruy foi um belo professor de Jornalismo. Acompanhei quase todos seus editoriais no Estado de São Paulo, e por isso, mesmo aqui, das escrivaninhas do interior, quero deixar minha singela homenagem em forma de texto a este grande homem das letras brasileiras.

Fui e, continuarei sendo, um leitor assíduo de Ruy Mesquita. Seu corpo, sua carne se vão, mas suas obras serão eternas e servirão para muitas futuras gerações de jornalistas. O fato de ler não significa concordar, e discordei de muita coisa que explanou em seus editoriais. Mas é isso que alimento o bom jornalismo: a adversidade. Respeitar a opinião contrária a sua, digo que é uma arte para poucos, para raros cidadãos.

No fim do ano passado, li a obra do jornalista Osmar Pilagallo intitulada: a História da Imprensa Paulista. Lá descobri que a família de Ruy Mesquista foi combatente direta na Revolução Constitucionalista de 32, defendendo, é lógico, os ideais paulistas. O menino Ruy tinha apenas sete anos, mas o suficiente para obter um DNA que o influenciaria nas futuras posições como homem das letras.

Seu ingresso no Jornalismo foi conturbado. No início de sua carreira, o Estado Novo de Getúlio Vargas interviu no jornal da família (O Estado de S.Paulo) e somente devolveu aos legítimos proprietários no fim da ditadura getulista. Esse fato transformou Dr. Ruy num dos mais combatentes opositores da política de Getúlio Vargas. Chegou a ser chamado de “comunista” pelos simpatizantes do getulismo.

Com o suicídio de Vargas, Ruy, que lia tudo que lhe caía às mãos sobre política e relações internacionais, encampou um novo movimento editorial-jornalístico, a derrubada de João Goulart (Jango). Uniu-se, por objetivos similares, aos Militares e ajudou, com suas armas textuais, a depor o sucessor da política getulista. Nunca afinou nas interpretações. Seus artigos eram claros, concisos e corajosos, características que o tornaram um grande jornalista, e que tento copiar e seguir, sem medo das togas da injustiça e dos símbolos da capa preta.

Da mesma forma que compôs com os Militares, não teve dificuldades para também romper relações quando via suas convicções políticas ameaçadas. Os atos institucionais foram a gota d’água para que Dr. Ruy entrasse na luta pela volta da Democracia. No comando do Jornal da Tarde, inovou e conseguiu transformar informações complexas daquele período de chumbo em textos compreensíveis, principalmente para os jovens da época.

Também foi dele a ideia de colocar receitas de culinária e trechos dos “Lusíadas”, de Camões, no lugar das notícias e reportagens censuradas pela Ditadura Militar. Era liberal e conservador e combateu desde o Getulismo ao Petismo. O Brasil perdeu um grande cidadão, com opiniões claras e convictas, e nós, jornalistas, um grande mestre. Obrigado pelos ensinamentos Dr. Ruy!



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