sexta-feira, 17 de abril de 2015

O Padre Multifuncional

Monsenhor Pedro José Vieira foi de tudo um pouco em Capão Bonito.
Além da batina, teve cargos desde diretor de colégio até prefeito



A história de Capão Bonito tem uma peculiaridade interessante: a cidade produziu uma espécie rara de padre. O poeta Juraci Braz das Chagas criou uma frase que muito bem representa essa diferença de batina: “Capão Bonito teve o padre dos passos, e o padre do Paço (uma referência a padre Arlindo Vieira e a padre Pedro José Vieira)”.
Para entender a vida e a carreira do padre que nasceu em Pereiras e se estabeleceu em Capão Bonito, é preciso tratar o assunto de outra ótica: O capão-bonitense sempre foi e é católico e religioso, ingredientes que o transforma num perfil conservador, e foi através dessa tradição, que Pedro José Vieira se transformou numa das principais personalidades deste chão gameleiro.

Nasceu no ano de 1923 na pequena cidade de Pereiras. Passou a infância e adolescência na terra natal e em seguida, cursou o extinto ginásio no município de Botucatu e o colegial em Sorocaba. Nessa época, decidiu que seria padre, e para isso, iniciou o curso de Filosofia e Teologia na Faculdade Ipiranga e fez uma pequena complementação filosófica na Faculdade de Mogi das Cruzes.

Foi também nos estudos religiosos que Pedro Vieira demonstrou suas primeiras habilidades com a política. Aproximou-se de professores e diretores, e fez boas amizades dentro da Academia Católica. Virou padre, oficialmente, em 1948.

Sua aptidão para as Relações Públicas o levou a um importante cargo da época. Foi secretário particular de Dom José de Aguirre – primeiro bispo diocesano de Sorocaba. Também passou pelas paróquias de Porto Feliz, Itaí e Paranapenema e no dia 22 de janeiro de 1957, bota o pé em Capão Bonito.

Usou sua influência como comandante da Paróquia para melhorar a eficiência dos serviços prestados pelas entidades sociais daquela época. Antes de mergulhar na atividade social, reorganizou todo o sistema administrativo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, tornando-a uma das mais organizadas da região. Foi um dos fundadores da Legionários em Defesa do Menor (Casa do Menor), provedor da Santa Casa de Misericórdia e presidente do Asilo São Vicente de Paula.

Seu jeitão simples de caboclo conquistou os fiéis capão-bonitenses, principalmente os da zona rural. Assim como padre Arlindo Vieira, que andou por quase todos os cantos rurais de Capão Bonito em nome da palavra de Deus, Padre Pedro, o Pedrão, também teve sua peregrinação pelas comunidades católicas rurais.

Os tempos eram outros, e Padre Pedro teve mais conforto que Padre Arlindo para levar o catecismo às localidades mais distantes de Capão Bonito. Visitava famílias desde o Taquaral Abaixo ao bairro dos Proenças. Na morada mais simples – aquelas batidas a barro – era recebido com uma modesta caneca de café, e nas fazendas mais produtivas, o chefe da família oferecia quase um banquete medieval, com direito a uma suculenta leitoa a pururuca, uma das comidas prediletas do Pedrão.

Com a popularidade em alta com o povão, Padre Pedro tratou, também, de ganhar espaço e respeito dos homens e mulheres da sociedade capão-bonitense. Não foi difícil, e aos poucos foi se misturando aos importantes do setor econômico e político do município. Montaram até uma espécie de clubinho, que ganhou o apelido de “Tatu”. Sempre em tom de brincadeira, fazia questão de falar sobre seu time do coração, o Palmeiras, que naquela época tinha uma verdadeira academia de craques. Também molhava a boca numa pequena dose de pinga cabocla, mas jamais abusou. O cigarro era outro de seus costumes.

A política
Convidado para abençoar as obras públicas e as cerimônias oficias da Prefeitura, Padre Pedro foi, de passo em passo, se aproximando do mundo político. Acompanhou, por inúmeras vezes, as comitivas de políticos que saiam de Capão Bonito rumo à capital paulista em busca de recursos. 

Com seu faro infalível, o ex-prefeito Abib Elias Daniel percebeu que aquele jeito simples de Padre Pedro era um ingrediente perfeito para o início de uma carreira política. Veio às eleições de 1972, e Abílio Turco conseguiu a proeza de unir na mesma chapa, no mesmo palanque, a força católica com Padre Pedro, e o líder dos evangélicos Cornélio Batista da Silveira.

A dupla Padre Pedro e Cornélio Batista disputaram o pleito contra o jovem líder do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) Antônio Roque Citadini, hoje presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. No auge da ditadura militar, Capão Bonito manteve seu estilo conservador e elegeu o padre e o pastor.

Como prefeito o Padre promoveu uma verdadeira mudança administrativa na Municipalidade. Adotou técnicas modernas de gestão, e acabou com os “esqueminhas” que predominavam até então. Se Abílio Turco imaginava que o padre seria apenas uma peça do xadrez de seu tabuleiro político, se enganou. Padre Pedro construiu um modelo político bem diferente do padrinho.

Como prefeito, se aproximou dos comandantes militares. Aproveitou a amizade que construiu com o ex-governador Paulo Egídio Martins para trazer dividendos para Capão Bonito, e conseguiu. No fim de seu mandato, a cidade virou referência em abastecimento de água e tratamento de esgoto.

Acelerou o departamento de Obras e deu uma nova cara a cidade abrindo ruas e avenidas. Construiu um novo acesso para a vila Santa Rosa, potencializou a criação de bairros como a Vila São Paulo e Nova Capão Bonito. Conseguiu recursos para a construção da hoje escola Mieldazis e para a Casa da Agricultura.

Tinha um carinho especial pelo povo do Ribeirão Grande e foi em seu governo, que aquela localidade começou a respirar ares de independência. Padre Pedro instalou a subprefeitura do Ribeirão Grande, abriu novos acessos e promoveu diversas obras de infraestrutura. Foi o primeiro passo para a emancipação.

Deixou a Prefeitura em 1976 e nunca mais voltou. Seus últimos dias de vida foram dedicados aos projetos sociais e à missão sacerdotal. Morreu em 1989, deixando a seu povo o exemplo de homem público e de um sacerdote voltado às causas sociais. Um padre multifuncional!





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