sexta-feira, 17 de abril de 2015

O poliglota capão-bonitense

A Biblioteca Municipal da cidade carrega seu nome. Nada mais justo a um dos maiores intelectuais que pintou neste chão gameleiro. Mário Gemignani deixou sua marca na história de Capão Bonito.

Filho de pais italianos, Gemignani nasceu em 04 de agosto de 1894. Ainda menino, sofreu uma pequena poliomielite que paralisou alguns movimentos de uma das pernas.

Depois de passar boa parte da infância na capital paulista, ele e seus pais escolheram outra cidade: Itapetininga. Lá, estudou e se formou na escola Peixoto Gomide, mas o destino levou-o a um povoado vizinho, que o acolheria de braços abertos para ensinar os filhos da terra.

Os problemas causados pela poliomielite o levaram a se aprofundar numa atividade que não exigiria tanto esforço físico. As letras, as palavras, os livros, as frases, os textos e a pluralidade linguística encantaram o professor paralítico, que se igualou a todos pelo saber.  

Se hoje, mesmo com o avanço das tecnologias de informação e de outros meios, ainda muita gente enfrenta dificuldades para concluir e avançar nos estudos, imagine numa época onde tudo se faltava.

A escassez e falta de condições materiais não conseguiram frear a força de vontade daquele homem. Mesmo encarando inúmeras dificuldades, Gemignani concluiu seus estudos e lecionou por mais de 9 anos em Capão Bonito.

Gemignani não era um simples professor. Conhecia 43 línguas e dialetos. Ainda jovem, se apaixonou pela diversidade cultural das línguas. “Depois de conhecer 10 ou 12 línguas, as outras são facilmente compreendidas. Elas têm traços comuns”, disse ao repórter Jacob Wizentie em 1953.

Em sua simples residência recebia inúmeros estudantes que buscavam referências para os trabalhos escolares. Muitos profissionais renomados de hoje que atuam em Capão Bonito foram beneficiados pelos trabalhos de Gemignani.
Ele não sabia dizer não a ninguém, mas reclamava aos mais íntimos da falta de vontade de aprender dos jovens capão-bonitenses. “Qual será o futuro desses meninos?”, interrogava. Seria muita ousadia deste jornalista que vos escreve citar o nome daqueles preferiram a comodidade ao encargo escolar. Mas tem muita gente “famosa” no meio.

Por muito tempo, Mário Gemigani foi o tradutor oficial da cidade. Resolvia qualquer dúvida. Da mais simples a mais complicada. Chagou a traduzir um famoso poema de José de Anchieta, dedicado à Virgem Maria, para a língua tupi-guarani.

A notícia de sua morte comoveu a cidade. Morreu aos 88 anos por complicações cardíacas, mas seu nome foi perpetuado pelo saber. “Tenho certeza de que minha vida não foi vazia e a satisfação íntima de ter feito alguma coisa, de ter ajudado outros em alguma coisa, paga-me bastante o esforço que tive que despender”, falou alguns anos antes de falecer.

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