sexta-feira, 17 de abril de 2015

Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo




A frase que abre esse artigo foi imortalizada pelo narrador esportivo Fiori Giglioti. Essa citação encaixou perfeitamente neste contexto político-futebolístico. Dizem por aí que para obter sucesso na vida, é preciso estar na hora certa e no momento certo. Digamos então que escrever sobre a coisificação dos homens e a humanização dos produtos da indústria cultural num período que surge novamente o maior evento manipulador do mundo (a Copa do Mundo) é, com certeza, um privilégio de poucos.

As cortinas estão abertas, e o espetáculo midiático e publicitário da Copa do Mundo está em processo de digestão nos cérebros dos brasileiros. Novamente nos tornamos apêndices das ‘coisas’. O capitalismo futebolístico está no mesmo estágio da lógica do Papai Noel – a satisfação de uma necessidade infantil. A Indústria Cultural influencia decisivamente nesta “Ávora” de gramas e arquibancadas. Podemos também comparar esse espetáculo às sanguinárias competições do Coliseu de Roma. Aqui, nossos gladiadores são outros: Neymar, Fred, Davi Luiz... São chamados de jogadores, mas na realidade são produtos previamente planejados para, numa eventual vitória brasileira, se transformarem em verdadeiros heróis num país cheios de conflitos sociais e dominado hoje pelas manifestações populares. É um país do show, do espetáculo, pois investe bilhões na construção de estádios em regiões sem tradição futebolística, ao invés de levar água tratada para milhares de famílias que lá necessitam.

O futebol/produto é uma mercadoria de felicidade, principalmente para os consumidores das camadas mais baixas, com escolaridade reduzida e com uma desanimadora perspectiva de vida. Mas, mesmo assim, essa classe consome felicidade, não de bens (carros, mansões, jóias...), mas de estética e seduções esportivas.

Infelizmente, o futebol reflete um pouco da nossa realidade e somos cúmplices deste sistema. Por exemplo, qual foi a nossa reação em relação aos últimos acontecimentos envolvendo violência e futebol. Apenas reclamamos com discursos contra as torcidas organizadas e contra as autoridades que não tomam providências. Nossa retórica é contestadora, mas nossa prática, mediante a omissão, é apoiar um sistema violentíssimo. Nesta sociedade, o que vale é a aparência, e não a essência, ou seja, só se aparenta o que não é.

Futebol, hoje, é espetáculo, e a Copa do Mundo é uma das principais peças de manipulação e rentabilidade econômica. A adoração à Seleção Canarinho é a crença legitimadora dessa situação. O amor à Pátria é acoplado e explorado pelos especialistas, que para vender heróis e mitos, não economizam na exploração da ignorância. Vale tudo para o espetáculo ser aplaudido e consumido. Este “futebol” faz parte de um núcleo que planeja com extrema competência a ignorância do que acontece e o esvaziamento do que aconteceu.


Por outro lado, assistimos os nossos negros e mulatos virando “Rei”, coisa que seria praticamente impossível em outro campo. Por isso, continuarei vibrando com os dribles de Neymar, com os gols de Fred , com a raça de Paulinho e principalmente com a força de vontade do nosso Felipão. Começamos a busca pela sexta estrela e para isso o espetáculo tem de continuar. Parabéns Brasil, pelas manifestações e pela Copa das Confederações!

Nenhum comentário:

Postar um comentário