sexta-feira, 17 de abril de 2015

30 anos sem o prefeito do povo

Andava pelas ruas e era idolatrado pelas crianças, donas-de-casa, pelos trabalhadores rurais, enfim, pelo povo mais simples


Será difícil Capão Bonito produzir um político popular e carismático como o ex-prefeito Abib Elias Daniel, o Abílio Turco. Este ano, completa-se 30 anos que a população perdeu um de seus maiores líderes políticos num trágico acidente automobilístico. O ex-prefeito morreu no dia 23 de dezembro de 1983, mas mesmo assim, muita gente ainda se recorda e sente saudades daquele moreno alto e simpático que, por onde passava, era respeitado e admirado.

Filho de Elias Jorge Daniel e de latife José Daniel, Abilío nasceu no dia 1º de outubro de 1928 no município de Itapetininga, e em 1952, botou seus pés em Capão Bonito e daqui nunca mais saiu. Com o sangue de comerciante na veia que herdou de seus antepassados, logo conquistou a clientela local, e deste jeitão de bom negociador, nasceu o apelido carinhoso que o consagraria na política: Abílio Turco.

Assim como seus pais, adorava conversar com os clientes, contar histórias... Só deixou a profissão de comerciante para assumir o posto de Delegado de Polícia. Foi durante seu exercício no comando da Polícia que a cidade ganhou sua Circunscrição de Trânsito, órgão responsável pelo licenciamento e registro de veículos.

A função o colocou em contato direto com a política. Como delegado participava de audiências com autoridades, cerimônias, inaugurações, e aos poucos, a político foi entrando na sua vida. Deixou a carreira policial em 1956 para disputar sua primeira eleição. Foi candidato a vereador e não imaginava que aquele cargo público, até então não remunerado, seria o primeiro degrau para torná-lo o político mais popular da história de Capão Bonito.

Na Câmara, se destacava pelos discursos simples e convincentes, sempre a favor dos mais humildes. Como legislador, criou Leis importantes e que favorecem a inclusão social de muitas famílias carentes. Ganhou notoriedade entre os caciques da época, e em 1964, foi convidado a formar chapa com o ex-prefeito Oscar Kurtz Camargo, e a dupla Oscar-Abílio virou moda e caiu na graça do povo.
Venceram a eleição e, juntos, realizaram obras e projetos que até hoje são referências de ousadia e de arrojo. Foi no mandato Oscar-Abílio que a cidade ganhou um moderno Centro de Cultura Física (Antiga Piscina) com quadra poliesportiva, piscinas, jardins, parque de diversão, salão de teatro e uma lanchonete com arquitetura futurista para os padrões da época. Infelizmente, décadas depois, aquilo que deveria ser preservado como patrimônio de Capão Bonito, foi descaracterizado pelo ex-prefeito Roberto Tamura, que praticamente destruiu todo aquele complexo que um dia foi o “orgulho do capão-bonitense”.

Com a morte do parcerio Oscar Kurtz em 1968, Abílio virou o mais forte concorrente na disputa pela Prefeitura. Pleiteou o cargo de prefeito e venceu. Tomou posse em fevereiro de 1969, em plena ditadura militar, e desde seu primeiro dia de trabalho como chefe do Executivo, buscou melhorias para sua terra, para sua gente.

Em 1970, liderou uma das maiores campanhas populares da região. Tomou a frente e levou milhares de pessoas à praça Rui Barbosa para discutir os problemas energético que a cidade enfrentava. No dia 05 de novembro do mesmo ano, o governador paulista da época, Abreu Sodré, cedeu às pressões políticas e anunciou, num suntuoso evento em praça pública, a substituição administrativa no controle e distribuição de energia elétrica no município. Entrou a estatal Cesp e saiu a ineficiente Companhia Hidroelétrica Paranapanema. Aquela iluminação fraca e oscilante virou coisa do passado e Abílio colheu os louros políticos do avanço.

No fim de seu primeiro mandato na Prefeitura, estudou e criou a primeira Lei de incentivo à Indústria, que concedia incentivos fiscais às novas empresas e núcleos industriais que viessem a se instalar no município. Anos mais tarde, a fábrica de cimentos Itabira S/A iniciava a construção unidade em Capão Bonito, numa área hoje pertencente ao município de Ribeirão Grande.

Na eleição seguinte, em 1972, usou sua popularidade para fazer o sucessor na Prefeitura. Uniu o católico e o evangélico no mesmo palanque – Padre Pedro e Cornélio Batista – para derrotar o jovem idealista Antônio Roque Citadini, hoje presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Quatro anos depois, seus aliados de 72, viraram seus adversários políticos.

Padre Pedro apoio o advogado Antônio Amaral, mas mesmo assim, deu o mais popular, deu Abílio. A eleição foi uma das mais competitivas da história política gameleira e deste pleito surgiu uma peça folclórica até hoje contada nos botecos da cidade: Pato x Macaco, uma representação simbólica da disputa entre Amaral e Abílio. Ambos adotaram o símbolo e jamais se irritaram com a referência.

Pela segunda vez Abib Elias Daniel assumia a comando do Poder Executivo local com uma cidade pulsando uma novo sangue econômico com o início das atividades da Fábrica de Cimento e com quase 90% de abastecimento de água e tratamento de esgoto. Abílio aproveitou o “boom” e tocou obras importantes: construiu o Arcão (mesmos sem o documento legal da área), rasgou avenidas como a Massaichi Kakihara, Santos Dumont e Ademar de Barros, pavimentou uma pista de Aeroporto e construiu o novo Paço Municipal.

Como todo político, Abílio não era uma unanimidade. Por ser popular e carismático, e muitas vezes sortudo, conquistou muitos adversários, que o classificavam como assistencialista, porém, a crítica jamais o abalava. Andava pelas ruas e era idolatrado pelas crianças, donas-de-casa, pelos trabalhadores rurais, enfim, pelo povo mais simples. E foi assim, com o apoio dos humildes que se transformou nesta lenda: O prefeito do povo.



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