sexta-feira, 17 de abril de 2015

Política e fé


É praticamente impossível separar a religião da política. Políticos precisam dos votos dos fiéis e os líderes religiosos aproveitam a valorização do passe para negociar algum benefício para a Igreja ou até mesmo para o próprio umbigo. A prática virou rotina no processo eleitoral.

Numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo nesta semana, o arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, falou: “É difícil separar religião e política”, porém, recomenda uma postura mais imparcial e consciente da Igreja. Para ele, os condutores religiosos devem incentivar uma participação mais ativa dos fiéis na política, e escolher candidatos que se sustentem em pilares como combate a corrupção e ao abuso do poder econômico (compra de votos).

Scherer adverte que a Igreja não deve indicar nomes, pois segundo ele é uma questão de escolha livre e consciente de cada um. “Recomendamos, também, que o clero não tome posição partidária. Não escolhemos partidos e nem candidatos, mas ajudamos a comunidade a discernir sobre cada um”. Esperamos que os padres locais leiam esse artigo.

O depoimento do arcebispo de São Paulo foi esclarecedor, mas a realidade é outra. Muitos líderes religiosos aproveitam a ingenuidade e a humildade de seu rebanho para doutrinar e eleger um apadrinhado. Temos vários exemplos em Capão Bonito. Nas eleições de 2008, a Igreja Católica se concentrou e levantou a bandeira de dois nomes na eleição proporcional. Neste ano, outros nomes já se declaram como candidatos do clero.

Pastores evangélicos também transformaram os palcos destinados à oração e à reflexão espiritual em verdadeiros palanques. Escancaram a Igreja para os políticos de seu agrado. Na semana passada, noticiei no meu Blog (Chicotada), a postura política da igreja evangélica “O Brasil para Cristo” – comandada pelo pastor Eduardo Teixeira – que anunciou, sem nenhum tipo de constrangimento, que terá candidato próprio a vereador. Agindo desta forma, a igreja desrespeita a liberdade e influencia diretamente na escolha do candidato. É uma forma de manipulação.

Os segmentos religiosos deveriam adotar condutas voltadas à formação e conscientização política. Padres e pastores têm boas formações intelectuais. Estudam teologia e consequentemente ganham conhecimento em sociologia, filosofia e história. Algumas neopentecostais vão mais longe e oferecem aos futuros comandantes cursos de oratória e psicologia para que o domínio fique mais fácil.

Deveriam também aproveitar os cultos e missas para abordar temas de interesse público e não umbilical. As igrejas não devem se omitir da política. Precisam sair do armário e assumir seu verdadeiro papel: educação e conscientização. A força da fé reúne multidões num único espaço e numa única atmosfera, e isso, precisa ser mais bem aproveitado. As igrejas precisam ensinar e esclarecer, e não bajular.  A política não deve ser meio de fortalecer uma religião em detrimento de outras.

Assim como os católicos, os evangélicos também caíram de cabeça na política. Todas as igrejas tem projeto de poder. A maioria se comporta como partido político e tem propósito de ganhar governos, prefeituras e bancadas nos parlamentos.


Quando um pastor ou um padre orienta, direta ou indiretamente, a votar num determina candidato, a discussão política torna-se intolerante e até discriminatória. Além disso, quando elegemos “políticos religiosos”, a cidade corre um sério risco, pois ao invés de obedecer a Constituição ou a sociedade civil, vão satisfazer o interesse de suas respectivas igrejas. Infelizmente, muitos ainda se orientam pelos apelos da Igreja. Esse é um dos principais freios do nosso desenvolvimento. 

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